1.º Festival de Tecnologia Popular
15 e 16 de março. Aconteceu, e ainda estamos a celebrar. Há alguns meses, o CIDAC aceitou o desafio que a ODET (Oficina de Democracia e Ecologia Tecnológica) lhe lançou, depois de um primeiro encontro por ocasião do número 4 da revista Outras Economias, juntamente com o Guilherme Luz: criar um Festival de Tecnologia Popular em Setúbal. A ideia era simples mas desafiadora: dois dias para descobrir como libertar a tecnologia do sistema económico capitalista, aprender sobre as conexões entre os dois e conhecer, na prática, formas alternativas de entender e utilizar a tecnologia. A União Setubalense acolheu estes dois dias emocionantes, de grande participação e interesse pela iniciativa, com um público local e de fora, intergeneracional e com diferentes níveis de conhecimento e interesse pelos temas propostos. O programa incluiu conversas-debates, bancas, momentos de convívio, uma oficina de experimentação de software livre, uma de privacidade digital, uma oficina de mapeamento das tecnologias no nosso dia-a-dia, uma de reparação de dispositivos digitais e de outros objetos, uma exposição sobre mulheres e pessoas com outras identidades de género no mundo da tecnologia e das telecomunicações, um filme… e muita troca entre todas as pessoas que participaram! As diversidades de formatos e momentos permitiu não apenas formas de participação diferentes, mas também um lado mais reflexivo e analítico, que foi possível complementar com uma componente prática, na hora, para tocar com as mãos o que é que entendemos quando falamos de alternativas tecnológicas. Com o apoio dos Coletivos.org, do Centro Linux, do Arranja-me um Café, do Barreiro, e da Ana Luísa Silva da Oficina Global, animámos momentos práticos e criativos de reflexão sobre os vários objetos tecnológicos que acompanham as nossas vidas. De que forma a tecnologia, especialmente a digital, tem ligações com o sistema económico capitalista? Como este sistema precisa deste tipo de desenvolvimento tecnológico para se manter dominante? Porque é que as mulheres e as pessoas com outras identidades de género continuam sub-representadas, quando não sistematicamente excluídas do mundo da tecnologia digital? O que é o capitalismo digital e quais são as suas formas de reproduzir opressões classistas, machistas, racistas, etc.? Será que toda esta tecnologia serve realmente os processos democráticos ou intensifica a concentração de poder e os autoritarismos? Uma transição energética justa e democrática é realmente possível? E a censura, está de volta? Estas foram algumas das muitas questões que orientaram dois dias de pensamento vivo, crítico e coletivo sobre a realidade na qual vivemos com Rute Correia, Beatriz Maciel, João Ribeiro, Xullaji, Guilherme Luz e Dani Bento. Foram dois dias em que aprendemos a ler a realidade para nela intervir. Despedimo-nos cheias de ideias, de pessoas amigas novas e vontades para o futuro, com a sensação de ter passado por alguma coisa que, realmente, estávamos a precisar. Como sempre, nada disto teria acontecido sem a solidariedade e o esforço coletivo de muitas pessoas. Agradecemos, de coração cheio, todas as pessoas que permitiram realizar com sucesso este 1.º Festival de Tecnologia Popular: esperamos que hajam muitos mais!
Outras Economias na Formação de Professores/as
Março. Círculos de leitura, oficinas criativas, atividades em sala de aula têm sido algumas das formas de fazer viver cada número da publicação Outras Economias, para além do seu lançamento. Desde o primeiro número, temos igualmente promovido ações de curta duração para professores e professoras de todos os níveis de ensino e grupos disciplinares. Numa parceria com o Centro de Formação de Professores Orlando Ribeiro e com vários formadores, entre eles Alexandre Abreu e Luís Santos, tem sido possível proporcionar formações online acreditadas, num cruzamento entre os conteúdos de cada número, a perspetiva da Educação para o Desenvolvimento e a adequação às necessidades pedagógicas específicas do contexto escolar. Assim, cada sessão é pensada de forma a incluir elementos expositivos; discussão e partilha de experiências dos e das professoras; e a exploração das propostas pedagógicas presentes em cada edição da Outras Economias. As últimas edições foram dedicadas às tecnologias e à educação, nomeadamente à inteligência artificial. Se quiser receber informações sobre as próximas ações de formação basta subscrever, gratuitamente, a revista.
Cidadania na ESA, com o CIDAC…
Fevereiro. No quadro do nosso trabalho em parceria com a Escola Secundária de Amora, co-organizámos um conjunto de atividades integradas na Estratégia de Cidadania deste estabelecimento escolar. No dia 17, realizamos um encontro-conversa sobre a questão do racismo no auditório da escola, durante o qual cerca de 120 alunas e alunos puderam debater com José Falcão, representante da SOS Racismo. No dia 21, foi uma manhã inteira dedicada ao tema do meio-ambiente e da saúde, para o qual os alunos e alunas do 1.º ano de Técnicos/as de Gestão e Programação de Sistemas Informáticos, que acompanhámos durante o primeiro semestre, apresentaram as suas reflexões e propostas sobre o tema junto de cerca de 100 participantes de diversas turmas da escola. A poluição sonora foi um dos temas tratados, para o qual foi apresentado um estudo realizado pelos alunos sobre os níveis de ruído nos vários espaços da escola, assim como sobre a perceção da poluição sonora no dia a dia dos e das jovens na escola e na sua vida quotidiana. Outro grupo evocou a questão das mobilidades amigáveis do ambiente e propuseram a assinatura de uma petição exigindo mais ciclovias na Freguesia da Amora. O tema da saúde como direito ou como negócio foi também abordado, antes da realização de uma palestra-debate sobre eco-ansiedade e condutas aditivas, para a qual convidámos uma enfermeira da Unidade de Cuidados na Comunidade Almada-Seixal e uma psicóloga e ativista climática que trabalha sobre estas problemáticas. Entre 17 e 21, a turma do 10.ºA, com quem também trabalhamos desde o início do ano letivo, instalou uma exposição interativa sobre o tema da Interculturalidade e da Igualdade de género no pavilhão principal da escola. Constituída por 6 painéis que convidavam os alunos e alunas a posicionarem-se perante afirmações provocatórias sobre os temas através da colocação de um papel verde (concordo) ou de um papel vermelho (não concordo), a exposição enriqueceu-se de mais informações a meio da semana que permitiu, a quem tinha votado, aceder a mais dados para conformar ou rever a sua posição.
Estas atividades vieram concluir o primeiro semestre de trabalho deste segundo ano do projeto CoESA, co-construindo cidadania global na escola. Mais notícias daqui a pouco!
Cooperativas: da realidade ao ideal – Lançamento OE #5
28 de janeiro. Cooperativismo: um ideal atual? E entre o ideal e a prática, o que é o cooperativismo na realidade concreta? Que valores? Porquê uma cooperativa e não uma associação ou uma empresa, ou vice-versa? Estas foram algumas das perguntas que guiaram a apresentação do número 5 da revista Outras Economias, na Casa da Achada, em Lisboa. Um momento intergeracional marcado pelo testemunho de diferentes experiências, de norte a sul do país. Começámos pela… prática: uma dinâmica que nos fez acreditar que o impossível - quando cooperamos - pode tornar-se realidade! Soubemos, de seguida, toda a programação do Ano Internacional das Cooperativas, que teve início este mês, por duas pessoas representantes da CASES. A partir das intervenções de Augusto Sousa, da cooperativa Brejos Faria (Moita); da Alina Santos, da coop99 (Porto) e da Rosa Carreira, da CooLabora (Covilhã), cooperativa com quem construímos este número, discutiram-se muitas das dimensões que marcam o cooperativismo: a sua construção histórica; as suas debilidades, desde a democracia interna à sustentabilidade financeira; os limites e potencialidades do quadro legal específico das cooperativas, no cruzamento com outros quadros a que estão sujeitas, como por exemplo, o direito laboral. Foram muitos os temas, numa grande paleta de cores que as cooperativas trazem e suscitam: são mais de cem anos de cooperativismo em Portugal. Qual o seu futuro é uma questão em aberto. Mas ficou no ar que, tal como tantas outras realidades socioeconómicas alternativas ao capitalismo, está sujeito a ciclos. Novas cooperativas de habitação ou cooperativas integrais parecem ser sinais de que se está a iniciar um bom novo ciclo! Se quer saber mais sobre cooperativismo, leia tudo aqui.
Lendo o número 4 da revista OE
17 de janeiro. Foram mais dois os círculos de leitura, que já se tornaram um ponto de encontro online para alguns e algumas intervenientes. Depois do círculo dedicado ao texto O fim das utopias, em 20 de dezembro, realizou-se um segundo momento em que, em vez de um texto, se leu uma banda desenhada. Neste caso, a banda desenhada de Guillaume Lion, Regresso ao Futuro. Facilitados por Amadu Djaló, os círculos têm proporcionado debates que ligam os conteúdos da revista à realidade de cada participante, tendo como pano de fundo preocupações ligadas às questões do desenvolvimento. Tecnologia para quem? Construída por quem e a partir de que recursos? Participantes de vários pontos do mundo – a tecnologia oferece-nos esta possibilidade, sabendo no entanto que também tem custos (energéticos, por exemplo)! - têm-se reunido nestes animados debates. Fique atento/a aos próximos círculos de leitura (se quiser receber informações sobre a sua calendarização consulte a Agenda da revista ou subscreva aqui).

Amigos de Aprender discutem Outras Economias
14 de abril. Há alguns anos, o grupo Amigos de Aprender propôs ao CIDAC animar uma sessão sobre Comércio Justo na Base-Fut, em Lisboa. Este grupo de cerca de 20 pessoas, de várias idades, empenhadas em discutir e aprender em conjunto sobre os mais variados temas, reúne quinzenalmente, agora online de modo a chegar a todos os cantos do país. E foi de forma remota que dinamizámos, de novo a convite do grupo, uma sessão sobre as Outras Economias e, em particular, sobre a revista que editamos. Partindo de um dilema central - superar, contornar e/ou reformar o sistema económico e os seus impactos sociais negativos - fomos pondo em diálogo diferentes visões sobre os limites e as potencialidades das iniciativas de economia alternativa. Desde a sua dimensão, a sua abrangência em termos de pessoas e territórios, tida como pequena demais para representar uma alternativa, até à capacidade de nos fazerem continuar a esperançar por um mundo mais justo. E fomos descobrindo que alguns/mas dos Amigos de Aprender fazem ou fizeram parte de Outras Economias, desde cooperativas, finanças éticas até às AMAPs.
Outras Economias volta à Covilhã
27 de março. Cooperativismo foi o tema do n.º 5 da revista Outras Economias, criado em conjunto com a CooLabora. Depois do seu lançamento, em Lisboa, fazia todo o sentido fazê-lo na sede desta cooperativa, que já acolheu calorosamente outras discussões em torno desta publicação. Levámos connosco o Augusto Sousa, da cooperativa de habitação colaborativa Brejos Faria, da Moita, e o Filipe Olival, da cooperativa integral Rizoma, em Lisboa. Algumas jovens do grupo CooLaboratório preparam um quebra-gelo para nos por a pensar sobre os múltiplos sentidos do cooperativismo, que deu o mote para uma ampla apresentação das duas cooperativas. Em diálogo cruzado, o Augusto e o Filipe foram respondendo a questões que passaram desde o funcionamento das cooperativas, em particular dos desafios da gestão democrática, até ao que representam em termos de alternativa social e económica para os seus membros e para a economia solidária como um todo. Surgiram questões tanto de alguns/mas jovens do grupo CooLaboratório como de pessoas que estão a pensar criar cooperativas, na Covilhã. Muito ficou para discutir e conversar, uma vez que o cooperativismo e as cooperativas enquanto sua concretização dão pano para mangas e continuam a representar um ideal em contínua experimentação.
Uma tarde no Ecomuseu do Seixal
7 de março. Durante o primeiro semestre de 2024/25, temos trabalhado com a turma do 1.º ano de Técnicos/as de Gestão e Programação de Sistemas Informáticos, da Escola Secundária de Amora, e com o seu professor de Cidadania e Desenvolvimento, os temas saúde e meio ambiente. O percurso, que culminou em duas atividades organizadas pelos alunos e alunas para os seus colegas de outras turmas, a 21 de fevereiro e 7 de março, foi enriquecido por uma visita de estudo. Conhecer um dos ecossistemas, e paisagem protegida, do estuário do Tejo: o sapal, e a utilização - antiga! - de uma energia renovável foram as motivações para esta visita ao Moinho de Maré de Corroios, um dos oito sítios museológicos que compõem o Ecomuseu do Seixal. Apesar da tarde chuvosa, tivemos uma calorosa receção e uma rica visita guiada por uma técnica do serviço pedagógico. Provámos sarcocónia, a partir da qual se pode fazer sal verde e conhecemos outras plantas típicas deste ecossistema salobro. Só não vimos flamingos! Percorremos os 600 anos de história do moinho de maré, conhecemos os mecanismos de moagem e alguns dos cereais que aí eram moídos. A energia das marés é uma das formas de energia que nos podem inspirar para os desafios ecológicos que enfrentamos!
Fevereiro. Ao longo do mês de fevereiro recebemos novas solicitações para intervirmos em escolas. A Escola Secundária D. Luísa de Gusmão, em Lisboa, pediu-nos para falarmos com uma turma do 8.º ano sobre o CIDAC, a sua história, o seu trabalho, relacionando este percurso histórico com o colonialismo. Esta mesma escola pediu-nos também uma sessão sobre Comércio Justo para todas as turmas do 9.º ano, sessão realizada no dia 19 na biblioteca da escola com cerca de 100 alunos e alunas. A Escola Secundária D. Dinis, por sua vez, solicitou uma intervenção de duas horas sobre o tema do Comércio Justo para alunos e alunas do 10.º até ao 12.º ano. Na sequência desta intervenção e pelo interesse que despertou, a professora coordenadora da Estratégia de Cidadania da escola requisitou a nossa exposição “O comércio pode ser Justo!” que ficou patente durante duas semanas.
Tecnologia, escrita e... solar punk!
22 de janeiro. As oficinas de escrita já não são novidade no CIDAC. Desta vez, no espaço de luta para a utopia real, a Sirigaita, decidimos explorar o mundo da ficção científica. Não uma ficção científica distópica, como estamos habituadas a ver, mas uma baseada na exploração do Solar Punk. O vídeo O que é o Solar Punk?, também presente no #4 da revista, deu-nos algumas dicas do que é que este futuro pode ser, mas foi preciso fechar os olhos e imaginar uma Lisboa daqui a 10 anos, onde tudo correu maravilhosamente, para vermos uma cidade cheia de verde, árvores e sem carros. Enfim, uma mini utopia. Dinamizada pela Ana Luísa Silva da Oficina Global, pudemos imaginar em conjunto, futuros mais solares e também pensar como é que lá chegaremos.
Oficina criativa: mapeando a tecnologia que usamos
15 de janeiro. Somos mais um D. Quixote que teima em perseguir os moinhos de vento ou um Sancho Pança que abraça o que a modernidade tem para oferecer? Foi esta a pergunta de partida para a nossa oficina criativa no CIDAC. Recorrendo a lápis e caneta (e por vezes ao telemóvel) mapeámos a tecnologia que usamos no nosso dia-a-dia. Percebendo que tecnologia incluia coisas desde escovas dos dentes, a autoclismos e claro o omnipresente smartphone. Ainda assim, acabámos por usá-los para investigar quem é dono da tecnologia que usamos e onde se concentra a maior parte dessa riqueza (apesar da suposta inovação, quem parece estar associado são os suspeitos do costume). Além destes mapas, também pudemos ler e debater sobre a (falta) de inovação e o potencial libertidador da tecnologia, guiando-nos pela entrevista a Cory Doctorow, presente no artigo Apoderar-se dos meios de computação – como os movimentos populares podem derrubar os monopólios das Big Tech. Uma tarde repleta de criatividade e com um sentido de que apesar das falhas da tecnologia, o uso desta para o bem continua a ser possível e necessário!
V Encontro do Sem Sombras: planear os próximos passos!
11 e 12 de janeiro. Para começar o ano em grande, o grupo de jovens do projeto Sem Sombras voltou a reunir-se na Golegã, no centro do Graal. Foram dois dias de reencontro, revisitação do primeiro ano do projeto e de planeamento dos próximos passos! Ficamos entusiasmadas com os resultados que conseguimos alcançar. No sábado, como de costume, iniciámos com dinâmicas de reencontro, depois revimos o projeto e entrámos no programa do encontro. Os seus principais objetivos: pensar num breve vídeo de animação sobre as temáticas do projeto e criar uma campanha de sensibilização a apresentar nas escolas dos e das jovens participantes.
Depois do visionamento da gravação da peça de teatro-debate que nasceu do projeto, o ano passado, num animado carrossel, as e os jovens analisaram as 4 cenas que a compõem e refletiram de forma crítica sobre as desigualdades entre mulheres e homens e a dimensão económica que nelas são tratadas. Surgiram conversas estimulantes e muitas ideias! O debate foi animado e ajudou o grupo a escolher a cena da peça que, de acordo com alguns critérios, fosse a melhor para a adaptação em vídeo. A cena escolhida foi “Restos de ontem” centrada nas personagens Clara e Miguel, um jovem casal a lidar com a gestão da economia do tempo – pessoal, de casal e familiar – com algumas questões que nos permitem refletir sobre vários temas, além da dinâmica particular. Os e as jovens trabalharam no guião da peça e pensaram em sugestões para a criação do mesmo vídeo.
No domingo, num ambiente lúdico, dedicámos toda a manhã e parte da tarde à construção da campanha, a começar também pela escolha do tema. O grupo escolheu a desigualdade salarial entre mulheres e homens e avançou com várias propostas para a sua realização, tanto na parte do conteúdo quanto na parte gráfica e formal, que serão a base do trabalho a desenvolver nos próximos meses.
Cheias de ideias criativas e de reflexões interessantes, terminámos o encontro avaliando o mesmo e já a planificar o próximo. O ano começou cheio de novidades e entusiasmo!